A Campanha da Fraternidade e a vida fraterna

Por * Pe. Antônio Carlos D' Elboux 16/02/2024

A Campanha da Fraternidade tem por lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs”, extraído do Evangelho de Mateus, capítulo 23, verso 8. É o apelo de Jesus para criarmos fraternidade, uma vez que somos todos criados à imagem de Deus e temos nele o Pai comum. Nas suas pregações Jesus sempre denunciava a instrumentalização da fé e criticava os falsos pastores e os falsos profetas que não tinham coerência entre o falar e o agir. “A Lei do Senhor jamais deixará de ser caminho de vida, mas a interpretação dos fariseus e dos escribas impõe, em seu nome, indiferença, confronto e conflito: sinônimos de morte” (CF, Texto base, nº 89).

O cristão que “fez a experiência verdadeira do encontro com Jesus, sabe que é o próprio Senhor o modelo dessa conduta” (CF, Texto base, nº 92) Os primeiros “sentimentos que devem configurar o cristão ... são aqueles que, por primeiro, o caracterizam: compaixão, disposição ao serviço, misericórdia, benevolência, fraternidade aberta a todos ... A comunidade de Jesus é comunidade daqueles que se reúnem ao redor de uma mesma mesa e celebram o Sacramento que forma comunhão, que faz irmãos. Ao redor desse altar, apenas um pode ser o Senhor e Mestre...” (CF, Texto base. nº 92). 

Na vida cristã “as pessoas não podem ser reconhecidas por outra condição que não a de irmãos e irmãs. Só é possível construir um mundo justo e igual ... se todas as pessoas envolvidas se sentirem irmãs umas das outras e viverem como tal, reconhecendo Jesus como único Mestre e o seu Evangelho como único ensinamento que humaniza e faz viver. A centralidade de Jesus como único Mestre e Senhor leva todos os membros da comunidade a se sentirem iguais e viverem como irmãos, ou seja, gera vida fraterna. E é da fraternidade que emanam a amizade, a solidariedade e a transparência nas relações” CF, Texto base, nº 93). 

Quando se reconhece que “há um único Guia, se reconhece também, por consequência, que todos são irmãos e irmãs uns dos outros, são iguais. Por isso, qualquer atribuição de poder ou autoridade deve ser levada a efeito somente a partir do serviço. É importante, no entanto, recordar que a diversidade de ministérios deve existir na comunidade que necessita de pessoas com capacidade e disposição para ensinar e orientar os demais na vivência do Evangelho. O que não pode acontecer é que se tornem instrumentos de domínio e superioridade, pois todos são irmãos e irmãs” (CF, Texto base, nº 95). 

Nas primeiras páginas da Bíblia Sagrada “aprendemos que, enquanto o primeiro erro de Adão e Eva levou-os a viver uma outra forma de vida, distante de Deus, da qual a morte seria o resultado inevitável, o erro de Caim é o que traz a morte imediata, para si e para o outro., Romper as relações fraternas é negar ao outro certa forma de existência, aquela da companhia e do convívio, mas é também abandonar a si mesmo à experiência da morte. Acolher é o justo contrário. Afinal, o Deus que é comunhão trinitária nos criou, também, com o convite para viver em comunhão” (CF, Texto base. nº 97). 

Quando em nossa sociedade “nossas diferenças são entendidas como ameaças e não encontram nossos esforços em construir fraternidade, as relações humanas se rompem e a morte encontra espaço para existir entre nós (CF, Texto base, nº 98). “se a comunidade eclesial hoje é rompida por motivos vários – dentre os quais o mau uso do poder, o ciúme e a inveja, que continuam, infelizmente, atuais – é porque não consideramos com a devida centralidade nossa dignidade fundamental recebida no Batismo” (CF, Texto base, nº 101). Para construirmos fraternidade, precisamos superar a dominação e a exploração.

* Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP