O caso Jô e a necessidade do uso da tecnologia no futebol

18/09/2017

O dilema ético-futebolístico voltou a pauta neste domingo, após vitória do Corinthians sobre o Vasco. Jô, aos 28 minutos do segundo tempo, marcou o gol que deu os três pontos à equipe paulista. Mais do que a efusiva comemoração por parte dos torcedores corintianos, o tento anotado pelo centroavante reacendeu uma discussão iniciada em 17 de abril de 2017, quando Rodrigo Caio protagonizou um gesto de honestidade ao livrar o atacante corintiano de um cartão amarelo no clássico contra o time de Parque São Jorge. Na ocasião, o defensor tricolor foi muito aclamado pela imprensa e, inclusive, premiado com uma convocação à Seleção Brasileira de Tite.

Jô, pivô da polêmica deste mês de setembro ao usar o braço para empurrar a bola para as redes adversárias, foi o primeiro a elogiar o zagueiro. “Parabéns ao Rodrigo Caio que teve atitude de homem, o futebol precisa disso. É uma amostra de que o futebol está mudando, que dá para ser honesto”, destacou.

As palavras de Jô naquela oportunidade agora ecoam efusivamente nas redes sociais – servindo como argumento para legitimar as críticas ao atleta, que teve a oportunidade de repetir a postura ética de Rodrigo Caio, mas não o fez. Pior que isso, Jô ainda tentou disfarçar sua hipocrisia ao afirmar que não percebeu o toque no braço no momento do gol.

Aqui cabe um parênteses; o questionamento a despeito da atitude de Jô só se faz presente porque o próprio jogador cobrou honestidade dos jogadores de futebol quando entrevistado para falar sobre o fair-play de Rodrigo Caio.

O debate sobre o tema ainda apresenta uma outra ótica: até que ponto é justo cobrar do atleta profissional – naturalmente contaminado pela parcialidade da camisa que veste – atitudes que possam prejudicar sua própria equipe no campo de jogo? É nesta questão que reside a história do surgimento da figura do árbitro.

Até 1881, as decisões no futebol eram tomadas pelo senso comum dos atletas, semelhante ao que acontece nas peladas Brasil afora. Com o tempo, percebeu-se que a concordância entre as duas equipes já não era mais possível e, para solucionar esse impasse, foi criado uma comissão que interferia no jogo somente quando havia reclamação por parte de um dos times. Posteriormente, o árbitro assumiu essa condição de julgador.

Há mais de um século, portanto, existe um mediador, naturalmente imparcial, encarregado de se posicionar e resolver os conflitos entre duas agremiações. Na verdade, acrescenta-se a ele as presenças dos bandeirinhas e árbitros de fundo.

Embora treinados e capacitados (nem sempre) para o trabalho que exercem, os árbitros também são humanos e, consequentemente, erram. Alguns equívocos perdoáveis, outros que não podem ser justificados – como a bola na mão de Jô, a poucos metros do assistente ‘decorativo’ de fundo, que inexplicavelmente não percebeu o desvio.

Aqui o ponto principal da discussão: os avanços tecnológicos possibilitaram o surgimento do recurso do vídeo, que tem como objetivo minimizar a falha humana e auxiliar a arbitragem nos lances que não puderem ser resolvidos numa fração de segundos. Alguns dos mais relevantes campeonatos da Europa já adotaram esse recurso, casos dos campeonatos Italiano e Alemão.

Lances polêmicos como o deste domingo devem servir, acima de qualquer debate ético, para atentar os mais apaixonados pelo esporte para a necessidade da implementação da tecnologia no futebol. Os conservadores irão argumentar que atrasaria o jogo e acabaria com as polêmicas da arbitragem – que alimentam os noticiários esportivos às segundas-feiras. Tudo isso, contudo, parece muito raso se comparado ao o sentimento de ver seu time do coração perdendo um campeonato por um gol ilegítimo.

Claro que em um mundo ideal a honestidade deve sempre prevalecer sobre a malandragem. Enquanto esse dia não chega, devemos usar de todos os recursos disponíveis para que os erros cometidos, seja por árbitros ou atletas, sejam corrigidos ainda com a bola rolando – fazendo predominar a justiça dentro da cancha.

 

 

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